Brochura, em papel avena 90g, 124 pgs
Formato: 15 x 21 cm
Ilustrações de Ãngelo Roncalli
R$: 30,00 (frete grátis)
Aquisição: edsolnegro@hotmail.com
O livro é carne. É parte tão intensa do que
somos que é tudo menos intangível. Em essência uma resposta anímica à apatia
que eventualmente prolifere dentro e fora de cada um de nós. Márcio Simões é um
notável cultor dessa visão de mundo. Seja pelo que escreve quanto pelo que
edita. Poeta e editor, graças ao imperativo existencial que o move tem
cultivado um relevante catálogo junto ao selo de livros artesanais que criou há
poucos anos, a Sol Negro Edições. Nele, as duas atividades estão de tal modo unidas
que em grande parte os livros que vem editando bem poderiam ser considerados
parte de si mesmo, parte vibrante de um projeto estético que tem levado adiante
de forma altiva.
E agora publica sua própria poesia. Uma edição
que requer uma atenção em sua leitura que vai muito além da empatia entranhável
que cabe a todo encontro amoroso com a criação artística. Márcio dá pistas que
reúne, em Fúrias de Orfeu, sua poesia passada a limpo. Quando o
relemos – a releitura é o melhor ninho das afinidades – é que percebemos que a
referida reunião conforma uma unidade fascinante e que fatalmente nos põe a
pensar sobre os desdobramentos acanhados do que se tem publicado no Brasil, já
de algumas décadas para cá. Onde estava o vendaval dessa lírica tão cortante,
onde a medida austera dessa esfera mágica? Certamente que se preparando para o
golpe de alumbramentos em que se constitui a publicação deste livro.
Márcio Simões é uma espécie de filho torto da
Beat Generation. Deslocado de seu ambiente insurrecto, em termo e espaço,
adubou sua alma com algumas vertigens anotadas no dorso do último meio século e
deu intensidade estética às relações entre vida e obra. Eu diria que Márcio
é um beat que ultrapassa a linha de flutuação das naus de
sua geração. Mais do que influência deste ou daquele poeta, sua poética
mergulha em uma visceralidade tocada pela beat. O radical de somatório de vida
e obra, que os brasileiros, salvo raras exceções, jamais conseguiram assimilar,
é o que situa Márcio Simões anos-luz à frente de seus pares e eventuais
mestres.
Uma leitura detalhada do livro não o observa
mais pelo prisma de um julgamento estético, e sim por breves anotações acerca
da intensidade de seu canto. JUVENÍLIA oferece ao leitor um derrame de
imagens tensas e fodidas que só vamos encontrar novamente, em igual força, em
FÚRIAS DE ORFEU. Nos dois capítulos intermediários o arco descansa um pouco.
ATHANOR é a parte mais prejudicada, porque ali se encontra aquela prosa poética
final que soa como diluição do que vira antes exposto. A beat-Buda não lhe cai
muito bem, e justamente porque Márcio é possuído por uma tensão citadina, uma
tensão marcada por seu próprio nome, sua própria experiência, que é o mais
forte nesta poesia. ATHANOR é uma espécie de elenco de referências, uma nau
evocativa, e sinceramente a referência deste poeta não é literária. Já o BALÉ
LETAL silenciosamente rende homenagem ao Roberto Piva, e um Piva que nunca
coube em homenagem. Sempre achei que a melhor maneira de homenageá-lo seria
distanciar-se dele. E aqui destaco: quem começa escrevendo um poema como “Lugar
– 1999” não deveria render homenagem a ninguém. Sua voz já estava ali. E
sinceramente eu vejo mais em sua lírica de uma delicada sombra de Guimarães
Rosa do que toda a beat. JUVENÍLIA é plena idade adulta de uma grande voz
poética. E quando o livro chega a seu capítulo final, que lhe dá nome, é que
retoma essa sangria de princípios. A cidade, o campo, a alma, o sonho, a
viagem, tudo isto faz parte de um mecanismo único, de desenhar uma voz, estes
são os seus “tambores graves ao entardecer”.
Para isto servem as referências: para
despertar a nossa alma. Mas esta – reitero – é leitura que faço de um livro que
está alguns acordes acima da toada de nossa lírica. Abraxas
Floriano
Martins
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