)poema|rio( | Elí de Araujo


[Poesia]
Brochura, em papel pólen, 532pgs
Formato: 16 x 23 cm
Tiragem de 300 exemplares

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Nos poemas de Elí de Araujo, aqui reunidos, tem-se uma espécie de desafio ao instituído, atitude que tem raízes na solidão radicada em uma perspectiva negativa, o que provoca no leitor uma sensação de deslocamento em relação ao senso comum. Reitera-se a chamada poética da dissonância, identificada por Hugo Friedrich nos poemas dos mestres da lírica moderna.
“Em árvore de imensidão, / retiro um sim, enredo um não” (versos do poema “O leão verde”) e “Onde tudo é igual: / Um não a um sim” (versos de “Noturnos e noturnos”) mais “Meu pão é Não / e meu leite é... / ... insubmissão” (versos de “Noiterra, noiterra, carne de só”) trazem ao leitor o incômodo dos esconjurados que, na sua prática, questionam as escrituras e querem revisar a história da fundação do mundo. Essa postura de maldito (cf. “Áditos & labirintos (centúria e legião)”) carregado de melancolia é, no entanto, plena de humanidade.
A condição humana que quase chora (porque ri!) no singelo “Jaculatoriazinha”, que se amostra com as interjeições de “Motivos para chorinho”, que reapresenta o desafinado natalense André da rabeca (“A moîra torta”), que entende o movimento das nuvens (“as nuvens procuram seu país”) faz-me pensar na fingida maldição do esconjurado. Esse poeta, esse impostor, é daqueles: Drummond (“História de poema do quintal”), Valdo Motta (“Salmo 23”), Manuel Bandeira (“Andorinha, andorinha”), Francisco Alvim (“moro há tanto tempo nesta casa / que meus vizinhos começam a morrer”), Oswald de Andrade (“Saudade”).
Um poeta em conflituosa relação com a sua cidade (veja-se o poema-consternação “A escola Myriam Coeli”) e com a sociedade (leia-se “Olimpo”). Gosto demais das suas palavras mais simples e diretas, como estas de “Dobaliana”, bem irônicas e atuais: “Maria da Rua / Esperava sem esperanças / O que todos nós esperamos / Com esperanças redobradas: / Tornarmo-nos ricos / Por obra do destino”.
Por obra de um redobrado esforço no trato com as palavras, por obra de um destino cultivado, os poemas reunidos de Elí de Araujo chegam, acredito, sem esperanças. Talvez seja esta a condição da leitura: esperar sem esperanças. [Humberto Hermenegildo]

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